Já chega a oito o número de presos em ação que o Ministério Público (MP) realiza hoje em três regiões do Rio Grande do Sul: a Operação Leite Compensado.
Entre eles, João Cristiano Marx. Ele foi preso em Ibirubá e é
considerado suspeito pela promotoria de ser o responsável pelo
transporte e adulteração. No início do ano, foi descoberta uma fraude que pode gerar sérios problemas de saúde. Segundo os promotores Mauro Rochemback, da Promotoria Criminal, e Alcindo Bastos Filho,
da Promotoria do Consumidor, algumas empresas voltaram a adotar uma
prática proibida para obter 10% a mais de lucro. Estão adicionando água de poço, não tratada, e ureia
no leite que é transportado do produtor para postos de resfriamento,
antes de chegar na indústria. O problema é que na ureia foi constatado formol, substância que causa câncer. O risco é ainda maior porque atinge todos os derivados do leite e este produto adulterado é encaminhado também para São Paulo e Paraná.
Investigação
Tudo começou quando o Ministério da Agricultura
analisou para amostragem a qualidade do leite em um posto de
resfriamento, ou seja, quando o leite chega do produtor. Na ocasião, foi
constatado que havia água e outras substâncias no produto. Uma delas é a
ureia, utilizada para que as indústrias não notassem perda de
nutrientes do leite. No entanto, o engenheiro químico Jerônimo Friedrich constatou que na ureia tem formol e este por si só causa câncer nos consumidores.
"Era uma técnica usada há 30 anos, quando não tinha muita
eletricidade no campo e foi proibida desde o ano de 1981", diz
Friedrich.
Em apenas um ano, estes empresários das três cidades que são alvo do MP transportaram cerca de 100 milhões de litros de leite com suspeita de adulteração. Além disso foram cerca de 100 toneladas de ureia, 83 toneladas somente em Ibirubá.
Operação
Estão sendo cumpridos mandados de prisão, busca e apreensão nos municípios de Ibirubá (8 mandados de prisão e 7 de busca), Horizontina (apenas 3 de busca) e Guaporé
(1 mandado de prisão e 3 de busca). Além das prisões de empresários do
ramo de transporte, o MP está apreendendo em empresas e residências
documentos, computadores e 17 caminhões utilizados para transporte de
leite adulterado. Em Ibirubá, entre os presos está o dono de uma
transportadora, o pai, esposa e cunhado dele. A justiça indeferiu um
mandado de prisão em Guaporé e dois em Horizontina.
Fraude no Leite
Segundo o MP, para um total de 10 litros, 9 são de leite e 1 de água de poço.
Isso foi confirmado pela Corsan, já que no local onde estes
transportadores retiram água não foi constatado atendimento pela
companhia. Depois disso, para que não fosse constatada a diminuição de
nutrientes do produto, os empresários adicionavam 100g de ureia, que tem
formol, para cada 10 litros de leite. Pelo menos 20 laudos técnicos
comprovam que o leite foi adulterado com substância cancerígena. A
mistura de água com ureia é feita dentro do tanque de um caminhão e
antes do leite ser colocado. O promotor Mauro Rochemback diz que a
fraude não envolve produtores e indústrias, mas que estas deveriam ter
um controle maior.
"O risco é grande porque o formol não sai mesmo com a pasteurização e
tivemos que antecipar o fim da investigação para que a população do RS
soubesse deste problema no leite que consome", diz Rochemback.
A adulteração consiste no crime hediondo de corrupção de produtos alimentícios, previsto no artigo 272 do Código Penal.
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