''A MOÇA DA CASA AZUL‏'' - PinheirOnline

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''A MOÇA DA CASA AZUL‏''

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Por Delci  Oliveira

Eu tinha uns três ou quatro anos, um inseto me picou na pálpebra do olho direito. Era madrugada, o agressor sumiu antes de ser identificado.
O olho não doía mas fechou de imediato. Não a fosse o doutor Arnaldo Sarubbi, eu não estaria hoje rabiscando estas linhas.
Trouxeram-me para a "vila" no veículo mais ligeiro do rincão, o carro de colônia pertencente ao vizinho "seu" José Maria Souza.
Antes de chegar ao médico, eu me queixando de sede por causa da febre, paramos numa esquina da praça. Uma moça me trouxe água.
Pela fresta de luz que restava no olho esquerdo, pude ver que ela era uma moça bonita.
Passei muito mal, nem parava sentado, pelo peso da cabeça. E o Doutor Arnaldo, em duas semanas me curou. Sem descobrir o agressor venenoso.
Alguns anos depois, já na cidade e na escola, reencontrei aquela moça. Fui seu aluno na Escola Nossa Senhora da Luz. E cantei no coral da Igreja Matriz
até a missa em latim, regido e acompanhado por ela, que também executava o órgão acústico de pedal. Ela era a professora Jacy Ratto da Silva, esposa do
"seu" Antoninho. Tinham dois filhos, o Ivan e a Kátia. Moravam naquela casa da esquina noroeste da praça central.


A professora Jacy, o marido e o filho Ivan, que era médico, já faleceram. A Kátia e os netos não moram aqui. A casa foi comprada por uma empresa e está
sendo demolida, em parte. Dizem que para construção  de lojas.

Também ouço dizer que  há conterrâneos protestando na Internet contra o que seria "um crime contra o patrimônio municipal".O termo crime não parece pertinente,
pois um bem público precisa ser reconhecido pelo poder constituído, mediante iniciativa popular e com aprovação do legislativo.

O que não aconteceu ainda. E é improvável que aconteça. Vejamos como exemplo o Castelo de Assis Brasil, em Pedras Altas. Sabemos o seu valor material, cultural
e histórico. E há anos carece de investimento, seja oficial ou privado. Infelizmente esta não é uma prioridade.

O órgão que a professora Jacy executava com desvelo e talento, ainda está na igreja matriz, muito bem conservado. E mudo. A música "sacra" de hoje dispensou os instrumentos acústicos. Fomos colonizados pela hipocrisia charmosa da modernidade. E cantamos saracoteando e batendo palmas. Oh Yes!...

Perante essa religiosidade ôca, cada vez mais aprecio o exemplo de vida que nos deixou Francisco (Chico) Xavier. E me encanto no jeito paternal do novo Papa, também Francisco. Que toma chimarrão, é compadre de um Rabino em Buenos Aires e, na juventude, foi motoqueiro.

Já disseram que o doutor Arnaldo era espírita. Ainda guardo a nítida lembrança dele me abrindo os olhos doentes. O seu rosto naquele momento era azul... mesma cor da casa da moça.

Tenho ainda uma singela esperança: que os novos proprietários, concluindo a reforma projetada, nos permitam colocar na parede uma placa dizendo:
"AQUI VIVEU A PROFESSORA DE MÚSICA JACY RATTO DA SILVEIRA". E espero que alguém com saudade diga: "ela era uma moça bonita"!

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