No rastro da poeira pode estar um inimigo invisível - PinheirOnline

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No rastro da poeira pode estar um inimigo invisível

No rastro da poeira pode estar um inimigo invisível

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A presença de carvão em solo gaúcho despertou, em séculos passados, o interesse de povos europeus (Foto: Carlos Queiroz - DP)
A presença de carvão em solo gaúcho despertou, em séculos passados, o interesse de povos europeus (Foto: Carlos Queiroz - DP)
O dia amanhece na campanha. Um contingente de trabalhadores deixa suas casas em cidades próximas e parte rumo a Candiota. Mesmo de muito longe é possível ver a torre da usina termelétrica. Imponente no horizonte sobre os campos do Sul do Brasil. Perto dali, há um buraco. A mina de carvão mineral forma uma imensa cratera na superfície.
A rocha sedimentar é assunto por aqui há mais de um século. Ela já despertou o interesse de ingleses, espanhóis, portugueses e tantos outros que queriam ser os donos da riqueza abundante deste chão. Desde 1961 a Companhia Riograndense de Mineração (CRM) - empresa de economia mista controlada pelo governo do estado do Rio Grande do Sul - detém os direitos de exploração da mina.
Porém, foi somente nos últimos anos que análises dos efeitos do contato com este carvão - considerado altamente poluente - começaram a ser feitas.Entre os anos de 2010 e 2012, a pesquisadora da UFRGS Paula Rohr realizou uma série de testes com funcionários da CRM e da Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE). Ela analisou 128 indivíduos. Destes, 71 eram trabalhadores expostos ocupacionalmente ao carvão, e 57 não. O trabalho demonstrou efeito genotóxico e mutagênico do carvão em todos os pesquisados, através da identificação da presença de micronúcleos nas células e quebra de DNA. Porém, este foi apenas o primeiro passo, pois não há estudos sobre as consequências dos danos na população.
Somente na mineradora, 185 funcionários trabalham diretamente junto às áreas de extração e beneficiamento de carvão. Para o presidente do Sindicato dos Mineiros, Wagner Pinto, o momento é de cautela. “Agora vamos acompanhar junto à empresa para ver qual o risco e exigir mais responsabilidade para que sejam feitas mais análises.”
Questionada pelo jornal, a CRM diz que após saber dos resultados do estudo, os procedimentos técnicos foram mantidos. De forma preventiva, a empresa afirmou ter solicitado outra pesquisa, à Universidade Federal do Rio Grande (Furg). Em nota, a mineradora disse “adiantar preliminarmente, que os resultados, comprovadamente, descartam qualquer alteração genética associada ao carvão mineral.” Entretanto, o Diário Popular solicitou detalhes do projeto mas não obteve resposta dos responsáveis da Furg.
A CRM também alegou que a investigação sobre a saúde dos empregados é feita, de forma rotineira, através dos exames periódicos durante a permanência do empregado nos quadros da empresa. Mas não há acompanhamento nem exames realizados a longo prazo com ex-funcionários, por exemplo. Quanto à fumaça das detonações, ela atinge a população distante mais de cinco quilômetros da área de mineração, mas o processo é reconhecido como o melhor modo de quebrar o minério e o que gera menos poeira e menor desgaste de equipamentos.
Os testes
Para chegar às conclusões, foram feitos dois testes com as células: o de micronúcleos e o cometa. Foram coletadas células do sangue e da mucosa bucal dos indivíduos.
Micronúcleo:
- Ao analisar as células no microscópio, pode-se ver dois tipos de células.
Ou há uma célula normal, com um núcleo, ou há uma célula com um micronúcleo do lado.
Os micronúcleos são formados quando há problemas na divisão celular, eles indicam que parte do DNA ficou fora do núcleo principal.
O micronúcleo é uma pequena porção de DNA quebrado, que sofreu mutação.
Cometa:
O teste Cometa é realizado através de uma técnica chamada Eletroforese.
Nela, as células recebem uma carga elétrica e a corrente quebra o DNA.
De acordo com a quantidade de danos, o núcleo forma um desenho.
Se o DNA estiver íntegro, o núcleo se dispersa inteiro.
Se há danos, as partículas menores vão mais longe formando um desenho semelhante a um cometa. Cauda mais longa indicação de um grau maior de quebra no DNA
-O trabalho da pesquisadora Paula Rohr foi desenvolvido no Laboratório de Imunogenética do Departamento de Genética do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em colaboração com o Laboratório de Implantação Iônica do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com o Laboratório de Genética Toxicológica e Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Veterinário da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), com o Laboratório de Estresse Oxidativo e Antioxidante do Instituto de Biotecnologia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), e foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo a Pesquisa do Rio Grande do Sul (Fapergs).
Tuco-tuco
O primeiro trabalho semelhante realizado em Candiota foi feito no fim dos anos 90, também por uma pesquisadora da UFRGS. O teste Cometa foi realizado com Tuco-tucos (roedores endêmicos da região) capturados em Candiota e Pelotas. Foi demonstrado aumento significante no nível de dano do DNA no grupo de Candiota, quando comparado com Pelotas.
 
 
 

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